terça-feira, 7 de setembro de 2010

Jurassic Coast Challenge - 3 Maratonas em 3 dias (Dia 1)

Nos dias 26, 27 e 28 de Março, estive na região de Dorset, Inglaterra, para realizar o que até então seria para mim a minha maior distância percorrida numa competição. Foram 3 Maratonas em 3 dias, o que dá um total superior a 126km. As Maratonas são independentes, ou seja, cada um pode escolher a que quer participar, mas a grande maioria escolheu o Jurassic Coast Challenge, ou melhor, escolheu fazer tudo.


Como os relatos ficariam muito grandes, resolvi publicar cada dia individualmente, ficando assim mais fácil de vocês acompanharem.


Esse é o primeiro relato, então cabe aqui um pouco do pré-prova. A organização foi perfeita. Todos que chegavam de trem ou ônibus eram recepcionados por alguém da corrida, desde que avisasse que horas e como chegaria. Fiz isso, e assim que saí do trem, me deparei com o médico da prova, que me levou direto para a base da competição. A base nada mais era do que um acampamento em caravans, com três quartos e com uma sala de estar, cozinha e dois banheiros. A capacidade máxima era de 6 pessoas, mas foram alocadas 3 pessoas em cada, uma para cada quarto.

O kit pré-prova é simples, com uma camisa de malha da prova, comum na Europa, número de peito, pequenas coisas de patrocinadores e os vales alimentações para os demais dias. Como era um acampamento, o local não tinha restaurante. Normalmente cada hóspede é responsável pela sua própria comida, mas até isso a organização nos dava, se você ficasse no acampamento, que era sem dúvida nenhuma a melhor opção. Você levava o prato e os talheres e eles levavam a comida.


No primeiro dia 215 pessoas começaram a correr. Todos devidamente com chips no pulso, para marcar as parciais nos check-points. Começou em Lyme Regis e terminava exatamente na base da corrida. A estimativa de distância era de uma Maratona, com 42km e teríamos que levar tudo o necessário para a corrida, incluindo aí 14 itens obrigatórios, entre eles bússola, mais de 400mL de água e um apito. Nos três dias éramos chamados para a conferência do kit básico, que já pesava mais de 3kg nas costas.





A corrida já começa no alto de uma montanha e a primeira coisa que temos que fazer é descê-la e chegar o mais próximo possível do mar. Devemos seguir o que nessa Costa Jurássica é chamado de Coast Path, ou caminho da costa. Que nada mais é do que uma trilha de terra. A terra só está presente nos lugares secos, quando está molhado é uma lama das mais escorregadias.





Pude comprovar isso com exatos 800m de corrida. Numa descida enlameada, ainda frio, fui muito afoito e acabei caindo. Essa foi a vez mais rápida em uma corrida que pensei: “O que estou fazendo aqui?” e a primeira na Europa, no lugar mais longínquo possível da Inglaterra.





Até o primeiro CP (fica mais fácil assim) são 8,11km. Nada muito longe, mas demora 1h23min, 2min acima do limite para se completar a prova em 7h. Diga-se de passagem não havia tempo máximo, mas caso fosse estourar o tempo de 8h, você devia comunicar a organização. Antes que eu me esqueça, um celular com crédito era outro item obrigatório. Até esse CP a dificuldade estava unicamente nas subidas e descidas, sendo possível se equilibrar tranquilamente na lama.


Depois são mais 11km até o segundo CP e a localização começa a fazer parte da prova. O natural num ponto seria seguir reto, mas você tem que dobrar a esquerda e seguir do outro lado de um pequeno lago. Percebi o erro e dou meu jeito de ir para o lado certo. No segundo CP, com menos da metade da corrida, e com 3h16min de prova, dou um bela descansada, como um sanduíche, bebo um café, pego umas balas (tudo oferecido pela organização) e sigo meu rumo. Muito chão ainda pela frente.





Depois do terceiro CP é que a coisa começou a ficar muito difícil. Tínhamos que passar por uma área militar que era só lama. E para piorar era muito difícil permanecer de pé. Resultado, enquanto fiz a primeira metade da prova em 3h16min, a segunda fiz em 4h44min., depois de alguns desequilíbrios e quedas.


O último quilômetro é no asfalto já dentro da cidade. Nesse dia, esse seria o único quilômetro asfaltado. Os últimos metros são dentro do “acampamento”. Antes de entrar, pego a minha bandeira, que me acompanhou nos 3 dias, e começo a correr que nem um maluco com ela. E era só o primeiro dia. Jurava que dessa vez ninguém ia gritar “Brasil!!!”, mas assim que peguei, a corredora que estava bem atrás de mim gritou um “Go, Brasil!!!”. Foi o estopim! Saí que nem um doido, mais ainda, até cruzar a faixa imaginária de chegada, entregar meu chip e número (era a forma deles terem certeza que todos chegaram) e partir para o jantar e depois para o descanso. Afinal, no dia seguinte teria a mesma coisa pela frente, e isso se repetiria no domingo...





Nessa hora pensei de novo “O que estou fazendo aqui?”. Tomei um banho e fui direto para cama.


Até o dia seguinte...

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