quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A Belíssima Maratona de Paris

O dia começou cedo. Ok, todo dia de Maratona começa cedo, mas esse não foi diferente. Estava hospedado na casa do meu amigo, e saí de lá antes que alguém demonstrasse a mínima vontade de acordar...


O local da largada não poderia ser mais charmoso: nada mais nada menos que a Av. Champs Elysée, bem na altura do Arco do Triunfo. Largamos às 8h45min, só passei pelo pórtico de largada às 9h05min. Dois motivos foram responsáveis por isso: os 40mil inscritos e o fato do meu GPS não ter reconhecido meu frequencímetro. Demorei um tempo até desistir de tentar fazer ele funcionar.





No km 2 já estávamos no terceiro ponto turístico da prova, já que os dois primeiros estavam na largada: Place de la Comcorde, uma praça com um obelisco trazido do Egito por Napoleão. Logo depois costeamos o Louvre e chegamos num dos pontos mais importantes da história francesa: a Praça da Batilha.


No km 10 a corrida entra por um dos bosques de Paris, o Bois de Vincennes e antes do km 12 avista-se o Châteu de Vincennes, um castelo belíssimo. Tudo vai indo muito bem, até que no km 15 me aconteceu algo que só havia acontecido uma única vez: me bateu o cansaço! Não o muscular, mas o SONO! Não estava conseguindo me manter concentrado na corrida, só tentava me manter com os olhos abertos. Foi difícil, mas aos trancos e barrancos me mantive.




A corrida segue até a marca da Meia Maratona, que fica perto da Bastilhas, por onde passamos novamente. Logo depois da Bastilha a prova começa a margear o Sena. Curiosamente a Maratona não cruza o Sena, ficando sempre na margem direita. Mesmo do outro lado do rio é possível avistar claramente a Catedral de Notre-Damme,o Museu D’Orsay e a Explanada dos Inválidos. Nesse ponto chega-se ao km 27.




Pode parecer exagero, mas a corrida começa aí. Primeiro que um pouco mais a frente está a magnífica Torre Eiffel, segundo que é a partir daí que a corrida começa a ficar difícil, pelo menos para mim. Continua-se a margear o Sena até entrar no outro bosque, o bem mais famoso Bois de Bologne, onde fica o complexo de Roland Garros, local do Aberto da França, que o Guga conquistou.




Um pouco mais adiante algo me chamou muito a atenção: em vez de um posto de água, que estavam a cada 5km, havia um posto de vinho. Não era da organização, mas de uma outra corrida que acontece nas região dos vinhos da França e que fazia ali a sua propaganda. Peguei uma taça de plástico e segui minha corrida. Logo depois um posto de linguiça, e mais adiante outro posto de vinho. Cada um de uma prova diferente. Não perdi a oportunidade e provei de tudo, mas em doses bem pequenas para não atrapalhar a corrida. Nisso já era o km 35.Agora faltava pouco.




No km 38 encontro um amigo meu, com quem tentei marcar na largada e não consegui. Muita coincidência achar logo no meio da corrida mais cheia que fiz. Fomos juntos até o km 40, quando comecei o meu sprint final, mais uma vez acompanhado da minha bandeira. Nessa hora minha meta era tentar bater o tempo da Maratona do Rio de 2009, que é de 4h57’08”. Mais para isso precisava fazer os 2 últimos km a menos de 5min/km, quando o melhor até então tinha sido em 5’52”. Por muito pouco não consegui, fechando em 4h57’30”, o que foi motivo de comemoração, mesmo sendo meu pior resultado em asfalto na Europa, mas era natural que os tempos aumentassem.




Esperei meu amigo chegar, por sinal o nome dele é Pedro Povoa, e comemoramos juntos a sua primeira Maratona. Tiramos uma foto na frente do Arco do Triunfo, já que a chegada é em frente a ele, mas em outra das 12 avenidas que convergem nele.




Foi uma corrida excelente, numa cidade mágica. Agora é curtir a cidade e rumar para Viena, onde a Maratona me espera no outro domingo.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A Cajuína cristalina em Teresina... 42km sob sol escaldante...

Estive no dia 15 de Agosto em Teresina e corri a Maratona de lá. Enviei meu relato para a Contra-Relógio e eles publicaram nesse mês. Está na página 28.

Segue:

"Dia 15 de agosto aconteceu a Maratona de Teresina, no Piauí. Embarquei na véspera para lá, somente chegando na madrugada do dia da corrida. Fui direto encontrar com o Carlos Hideaki, meu amigo de São Paulo, que também topou encarar esse desafio. Um pouco mais de 90 pessoas se inscreveram para a Maratona, mas apenas 53 foram. A alta desistência pré-corrida se deveu ao valor da inscrição, que foi de 2kg de alimentos, entregues somente na véspera, sendo assim quem se inscreveu e desistiu não teve prejuízo, mas atrapalhou à organização na logística.

A corrida estava marcada para as 6h da manhã no mais novo ponto turístico da capital piauiense, a Ponte Estaiada. Uma largada nesse horário é ótima em qualquer lugar do Brasil, ainda mais no Nordeste, onde a previsão para aquele dia era de mínima de 23º e máxima de 36º. A largada atrasou poucos minutos e a temperatura já estava perto dos 30º. As corridas de 5 e 10km começou 2h depois. Uma sugestão para a organização é a existência de guarda-volumes na arena da prova. Fez falta.

Teresina é cortada por dois rios, o Parnaíba e o Poty, e a corrida consiste em duas voltas por ambas as margens do Rio Poty. A corrida acontece com o trânsito aberto na maior parte do trajeto, mas com os motoristas respeitando uma distância mínima em relação aos corredores, sem que fosse visto por mim qualquer perigo aos corredores, mas é lógico que correr com o trânsito fechado é preferível e mais seguro. Outra sugestão à organização.


Uma qualidade da prova que me chamou muita atenção foi a quantidade dos staffs ao longo do percurso. Nunca vi tanta gente ajudando a corrida. Em compensação, não houve nenhum apoio da população. A grande maioria estranhava quando eu passava sozinho no canto direito da pista. Muitos sequer sonhavam que estava acontecendo uma Maratona. Quanto a hidratação eram cinco os postos de água e um de isotônico por volta. Apenas um, que era compartilhado com s corredores de 10k, localizado no km 30 da Maratona estava vazio. Todos os outros possuíam água gelada.

O percurso era relativamente fácil, com poucas e curtas subidas. As subidas eram 3 por volta, duas nas pontes que eram cruzadas, e uma no acesso à Ponte Estaiada. O que dificultava a corrida era o clima muito quente e seco. Às 8h o sol já estava escaldante, o tornou a segunda volta do percurso muito mais árdua do que a primeira.

Fiz a primeira metade em 2h02min e a segunda em 3h01min, fechando com 5h03’50”, na 31ª colocação masculina e 32ª geral. Dos 53 que largaram, 37 chegaram, sendo 34 homens e 3 mulheres. Detalhe que não houve desistência entre as mulheres. Todas que largaram concluíram e foram premiadas em dinheiro.

Parabéns à Prefeitura de Teresina que conseguiu mostrar que é possível organizar uma Maratona em qualquer lugar do Brasil. Que essa Maratona sirva de exemplo para que outros estados tenham suas Maratonas.

Tomando uma Cajuína para recuperar as forças

O resultado está publicado no site: http://www.maratonadeteresina.com.br/"

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Jurassic Coast Challenge - 3 Maratonas em 3 dias (Dia 3)

Depois do relato do Jurassic Coast, vou alternar provas mais antigas, pendentes de relato, com provas mais novas, não necessariamente seguindo uma lógica cronológica... Segue a parte 3 do Desafio...


Após dois dias bem puxados, chegava a vez do terceiro e derradeiro dia. Mas antes de começar tinha um pequeno problema: nesse domingo mudava o horário da Europa para o horário de verão e consequentemente eu teria uma horas a menos de sono. Isso se eu soubesse desse horário! Não sabia, mas fui salvo graças à tecnologia. Todos os meu relógios (celular, Garmin e laptop) mudaram para o horário certo e pude estar na van na hora certa, já que a largada seria dada onde paramos no dia anterior. Antes de entrar, encontro com o swipper da dia anterior e ele estava me procurando pois sabia que eu era o único de fora da Europa, talvez do Reino Unido, na corrida. Ele estava preocupado com o fato do horário. Isso sim faz a diferença!





Por incrível que pareça eu estava mais inteiro nesse dia do que na véspera. Comecei num ritmo forte para a terceira maratona, mas antes do segundo quilômetro fui obrigado a caminhar. Não porque estava cansado, mas por se tratar de uma pirambeira daquelas.





Até o primeiro CP, tudo segue normalmente, com o tempo relativamente alto, mas dentro do esperado. Depois dele fui passado pela primeira vez pelos que só corriam, mas nesse dia eu já não era o último do grupo 2. Atrás de mim vinham mais alguns, assim como todos os que optaram por fazer o desafio todo em 24h. Depois desse CP é que a prova começou a mudar, e a ficar cada vez mais difícil.





A primeira dificuldade era alcançar o CP 2, que ficava no ponto mais alto da prova, mas para isso você tinha que sair de praticamente a mesma altura, descer uma escadaria na pedra até o nível do mar, e subir tudo de novo. A névoa começava a dar as suas caras, e enquanto se descia a escada era impossível ver que tinha que subir outra maior ainda, mesmo ela estando a menos de 100m a frente. Quando se avista, é desanimador, mas a corrida segue. Optei por não olhar mais para cima e encarar somente os dois degraus na minha frente, as outras centenas seriam consequência. Deu certo! Lá em cima vejo no meio da névoa o CP2, paro lá e só alcançado pelos primeiros atletas solo. Por incrível que pareça, alcançar esse CP estava longe de ser a maior dificuldade desse dia.


Segui viagem rumo ao CP3. As pessoas que saíram comigo do CP2 estavam no mesmo ritmo que eu. As vezes eles me passavam, as vezes eu passava eles, mas no final das contas estávamos todos juntos, cada um no seu ritmo pessoal de corrida.


Nos próximos 10km, a corrida segue dentro das expectativas. Subidas, descidas, muita dificuldade, mas nada fora dos padrões enfrentados nos dias anteriores. Os últimos quilômetros são dentro de um parque, de onde se tem uma vista lindíssima do mar de um lado, e de um parque bem conservado do outro. Se bem que mar era o que se via ao longo de todo o percurso. Entramos numa pequena cidade e lá estava o CP3 nos esperando. Dei meu sprint para o CP, passei o chip, enchi minha mochila de água, peguei algo para comer e quando estava pronto para sair a notícia que mudou a corrida: devido ao aumento da névoa a guarda costeira tinha impedido a corrida de continuar!!!



Fiquei desesperado! Só faltavam 10km para a reta final e não queria ser obrigado a desistir, mesmo que pela guarda costeira. Já tínhamos corrido 34km (esse dia teria 44km) e desistir ali depois de 120km percorridos ao longo de 3 dias me pareceu frustrante. Mas a organização pediu que aguardássemos para tentarem convencer a guarda costeira. 45min depois a notícia: poderíamos relargar, mas deveríamos permanecer em grupo. Devido à névoa, a corrida tinha deixado de ser individual e se tornado um evento coletivo. Agora deveríamos agir como um grupo até chegarmos na última praia, onde o evento acabaria. Na costa tínhamos que estar agrupados! Ordens da guarda costeira.




Achei a notícia ótima e lá seguimos. Primeiro no resto dessa pequena cidade, depois começamos a subir um morro, até que lá em cima, quando iríamos realmente para a costa, aparece novamente a guarda costeira. Dessa vez não para impedir que a corrida continuasse, mas para nos mandar para um caminho alternativo que teria a mesma distância. Além disso pegaram nossos números para que tivessem certeza que todos tinham chegado. Ninguém poderia ficar para trás.





O caminho alternativo era por dentro de algumas fazendas, fazendas essas no meio de uma colina, colina essa bastante íngreme e molhada, já que chovia. Para dificultar a névoa estava cada vez maior. Não se via mais que 5m a frente. O grupo era grande, mas não consegui ver mais de 5 pessoas. Essas fazendas não faziam parte dos Coast Path, sendo assim, não estavam preparadas para a passagem de pessoas. Muitas delas tinha cercas de arames farpados, que tinham que ser puladas, assim como outros tipos de certas e obstáculos que enfrentamos. Era uma unanimidade entre os que estavam lá: estávamos correndo mais perigo ali do que na costa, mas ali não era responsabilidade da guarda costeira, então para eles era a melhor opção.


Depois de alguns quilômetros (não sei ao certo, pois meu garmin já tinha acabado a bateria) chegamos na praia. Agora eram 2km na areia e 800m ou 1km até a linha de chegada. Na parte da praia alternava corridas com caminhadas para descansar, até que avistei alguém da organização avisando que tínhamos que entrar para a reta final.


Tão logo avistei ele saquei a minha bandeira e saí em disparada como um maluco, no meu já tradicional sprint final além das forças. Mas que disse que essa “reta” final era fácil? Tínhamos que passar por uma partes alagada onde a alternativa era uma só: pé na lama. E a água ia até quase o meio da canela. Mas no calor do momento fui no embalo.


A chegada foi fantástica, dei um grito de desabafo! Foi um bom e velho PQP, que ninguém entendeu, mas eu precisava daquilo. Pequei meu troféu pelo desafio, tirei uma foto com a bandeira, tirei uma foto com o diretor da prova, e fui para a van esperar os outros chegarem para ir até a base da corrida. Consegui completar esse dia com o tempo líquido, descontando a parada por causa da névoa, de 9h17’44”





Quase 70km nos distanciava da base e seria uma viagem demorada. Obviamente fui dormindo e quando saí do carro ainda molhado, comecei a tremer. Não conseguia parar, me deram um café quente, mas a tremedeira, típica de Charles Chaplin, não deixava nada dentro do copo. Me acompanharam até a minha caravan e lá tomei um bom e demorado banho quente. Pronto! Agora sim o desafio tinha terminado.


Mesmo sendo um dos últimos a terminar o desafio, me senti a pessoa mais importante do mundo, pois tinha terminado algo que jurava que seria impossível. Foram 3 Maratonas num tempo de 26h08’46”.


Depois dessa pedreira eu tinha duas semanas de descanso até a próxima corrida: Paris!


Um grande abraço e desculpem pela ausência! Agora voltei com força total!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Jurassic Coast Challenge - 3 Maratonas em 3 dias (Dia 2)

O segundo dia começou igualzinho ao primeiro, a única diferença é que não seríamos transportados para a largada, nós já estávamos hospedados nela. Tomei meu café da manhã, participei do briefing do segundo dia e fui junto com o Grupo 2 largar (eram 3 Grupos: 1, só de caminhante; 2, de corrida e caminhada; e 3, só de corrida).


Largada feita partimos para uma península chamada Portland, onde aconteceria metade da prova, daríamos a volta nela e retornaríamos pela mesma estrada para completar a outra metade.



Os 3 primeiros quilômetros eram só de asfalto e foram feitos tranquilamente, mas tão logo ele acabava já encarávamos uma subida bastante íngreme em uma escada feita de pedra. Nada fácil, e isso derrubou absurdamente o meu ritmo, até então muito acima do esperado.


Outro detalhe que tenho que contar é que a mochila, que devia pesar facilmente 4kg incomodava cada vez mais, e minhas costas estavam doendo da véspera.

O primeiro Check-Point (CP) ficava exatamente no final da península, o que impedia que algum malandro cortasse caminho, se bem que esse não era o espírito de ninguém que tava ali, pois cortar caminho só desmereceria nosso feito. Mas era obrigação da organização tentar evitar isso. Quando cheguei lá eu já era o último do meu grupo e já passei lá o último de G1, que largara 45min antes. Nenhum do G3 tinha me passado ainda, pois largaram 1h15min depois de mim, e ali era ainda o km 9.

A volta, pelo outro lado da península, era ainda mais difícil, pois algumas vezes tínhamos que sair do caminho mais óbvio e o relevo era bem acidentado, cheio de sobe e desce, o que só gerava mais cansaço e perda de tempo. Nessa hora passei a penúltima pessoa do G1, e comecei a ser passado pelo G3.


Logo quando melhorou o terreno, e justamente quando não tinha ninguém por perto, cheguei numa bifurcação. Olhei o mapa e não soube precisar aonde eu deveria ir. Escolhi um dos lados: o errado. Andei uns 500m e percebi que estava estranho o fato de não ter mais ninguém passando. Perguntei para quem estava lá, e me falaram que eu era o primeiro que passava lá correndo, ao falar que eu participava de uma competição me perguntaram: “Está ganhando?” e eu: “Não, estou perdido!” Dei meia volta e consegui achar o caminho certo, que era um caminho de terra justamente no meio da bifurcação.


A partir daí era só descida até voltarmos para mais 3km de asfalto, na mesma estrada, até chegar no CP2. Ali era exatamente a marca da meia maratona e encontrei lá vários corredores que tinham me passado e outros tantos chegaram. Fiquei uns 15min lá, e quando saí ainda chegava gente.



Não demorou meia hora e fui passado por uma mulher do G3 e junto com ela vinha um cara da organização. Assim que ela me passou e parou para falar comigo: “Sou o swipper”. Swipper é o termo utilizado para a pessoa ou veículo que acompanha o último, chamado no Brasil de vassourinha, ou qualquer variante. Por alguns quilômetros, quando eu andava ele andava, quando eu corria ele corria. Foi bom ter uma companhia, e quando chegamos numa zona urbana (era a única vez que passaríamos por uma cidade de pequeno porte) asfaltada, eu segui correndo, com ele junto.


Na hora que eu iria passar um casal, resolvo acompanhá-lo e vamos em quarteto por mais alguns minutos. Resolvo seguir meu rumo um pouco antes do CP3, quando já tínhamos passado mais uma pessoa e o swipper não estava mais com a gente. Antes disso, passamos por o único ponto com lama do dia, e a lama era muita, dificultando ficar em pé e muitas vezes prendendo o tênis. Foram algumas vezes que puxei o pé e o tênis não veio.



No CP 3 encontro outros competidores partimos todos praticamente juntos para os último 9km. Após a subida, resolvo correr forte, o que era de se surpreender, pois era o final do segundo dia.


Faltando aproximadamente 3km para alinha de chegada, vejo o que seria uma das maiores obras da natureza. Era a encosta famosa da costa jurássica, que é de fazer você parar para admirar. Parei alguns segundos! Valia a pena!



Antes de chegar, tinha ainda que descer uma escadaria de terra, subir outra, passar por mais um ponto lindíssimo, para só então avistar a chegada na parte mais baixa. Era hora de pegar a bandeira, que estava na mochila e partir para o abraço. Desce escadaria (mais uma) voando baixo.


Completei esse dia em 8h50min43seg. Durante muito tempo fui o último, mas 12 pessoas terminaram depois de mim, e outras 12 desistiram! Ou seja, ganhei de 24. Na verdade eu ganhei de mim mesmo, pois a corrida foi duríssima.



Agora era só voltar para o hotel, distante 30km e descansar para o terceiro e derradeiro dia! Só para constar, a quilometragem desse dia era superior a 43km.



Grande abraço

Jurassic Coast Challenge - 3 Maratonas em 3 dias (Dia 1)

Nos dias 26, 27 e 28 de Março, estive na região de Dorset, Inglaterra, para realizar o que até então seria para mim a minha maior distância percorrida numa competição. Foram 3 Maratonas em 3 dias, o que dá um total superior a 126km. As Maratonas são independentes, ou seja, cada um pode escolher a que quer participar, mas a grande maioria escolheu o Jurassic Coast Challenge, ou melhor, escolheu fazer tudo.


Como os relatos ficariam muito grandes, resolvi publicar cada dia individualmente, ficando assim mais fácil de vocês acompanharem.


Esse é o primeiro relato, então cabe aqui um pouco do pré-prova. A organização foi perfeita. Todos que chegavam de trem ou ônibus eram recepcionados por alguém da corrida, desde que avisasse que horas e como chegaria. Fiz isso, e assim que saí do trem, me deparei com o médico da prova, que me levou direto para a base da competição. A base nada mais era do que um acampamento em caravans, com três quartos e com uma sala de estar, cozinha e dois banheiros. A capacidade máxima era de 6 pessoas, mas foram alocadas 3 pessoas em cada, uma para cada quarto.

O kit pré-prova é simples, com uma camisa de malha da prova, comum na Europa, número de peito, pequenas coisas de patrocinadores e os vales alimentações para os demais dias. Como era um acampamento, o local não tinha restaurante. Normalmente cada hóspede é responsável pela sua própria comida, mas até isso a organização nos dava, se você ficasse no acampamento, que era sem dúvida nenhuma a melhor opção. Você levava o prato e os talheres e eles levavam a comida.


No primeiro dia 215 pessoas começaram a correr. Todos devidamente com chips no pulso, para marcar as parciais nos check-points. Começou em Lyme Regis e terminava exatamente na base da corrida. A estimativa de distância era de uma Maratona, com 42km e teríamos que levar tudo o necessário para a corrida, incluindo aí 14 itens obrigatórios, entre eles bússola, mais de 400mL de água e um apito. Nos três dias éramos chamados para a conferência do kit básico, que já pesava mais de 3kg nas costas.





A corrida já começa no alto de uma montanha e a primeira coisa que temos que fazer é descê-la e chegar o mais próximo possível do mar. Devemos seguir o que nessa Costa Jurássica é chamado de Coast Path, ou caminho da costa. Que nada mais é do que uma trilha de terra. A terra só está presente nos lugares secos, quando está molhado é uma lama das mais escorregadias.





Pude comprovar isso com exatos 800m de corrida. Numa descida enlameada, ainda frio, fui muito afoito e acabei caindo. Essa foi a vez mais rápida em uma corrida que pensei: “O que estou fazendo aqui?” e a primeira na Europa, no lugar mais longínquo possível da Inglaterra.





Até o primeiro CP (fica mais fácil assim) são 8,11km. Nada muito longe, mas demora 1h23min, 2min acima do limite para se completar a prova em 7h. Diga-se de passagem não havia tempo máximo, mas caso fosse estourar o tempo de 8h, você devia comunicar a organização. Antes que eu me esqueça, um celular com crédito era outro item obrigatório. Até esse CP a dificuldade estava unicamente nas subidas e descidas, sendo possível se equilibrar tranquilamente na lama.


Depois são mais 11km até o segundo CP e a localização começa a fazer parte da prova. O natural num ponto seria seguir reto, mas você tem que dobrar a esquerda e seguir do outro lado de um pequeno lago. Percebi o erro e dou meu jeito de ir para o lado certo. No segundo CP, com menos da metade da corrida, e com 3h16min de prova, dou um bela descansada, como um sanduíche, bebo um café, pego umas balas (tudo oferecido pela organização) e sigo meu rumo. Muito chão ainda pela frente.





Depois do terceiro CP é que a coisa começou a ficar muito difícil. Tínhamos que passar por uma área militar que era só lama. E para piorar era muito difícil permanecer de pé. Resultado, enquanto fiz a primeira metade da prova em 3h16min, a segunda fiz em 4h44min., depois de alguns desequilíbrios e quedas.


O último quilômetro é no asfalto já dentro da cidade. Nesse dia, esse seria o único quilômetro asfaltado. Os últimos metros são dentro do “acampamento”. Antes de entrar, pego a minha bandeira, que me acompanhou nos 3 dias, e começo a correr que nem um maluco com ela. E era só o primeiro dia. Jurava que dessa vez ninguém ia gritar “Brasil!!!”, mas assim que peguei, a corredora que estava bem atrás de mim gritou um “Go, Brasil!!!”. Foi o estopim! Saí que nem um doido, mais ainda, até cruzar a faixa imaginária de chegada, entregar meu chip e número (era a forma deles terem certeza que todos chegaram) e partir para o jantar e depois para o descanso. Afinal, no dia seguinte teria a mesma coisa pela frente, e isso se repetiria no domingo...





Nessa hora pensei de novo “O que estou fazendo aqui?”. Tomei um banho e fui direto para cama.


Até o dia seguinte...

Voltei e agora é para valer...

Depois de uma longa ausência, voltei... Sei que já anunciei isso, mas dessa vez é verdade.

Vou começar escrevendo sobre as corridas na Europa que eu fiz, e que deixei de publicar aqui...

Tenho muito o que escrever, já que desde então fiz algumas Maratonas e Ultras.

O primeiro post sai ainda hoje...

Grande abraço,

Rodrigo