quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Jurassic Coast Challenge - 3 Maratonas em 3 dias (Dia 3)

Depois do relato do Jurassic Coast, vou alternar provas mais antigas, pendentes de relato, com provas mais novas, não necessariamente seguindo uma lógica cronológica... Segue a parte 3 do Desafio...


Após dois dias bem puxados, chegava a vez do terceiro e derradeiro dia. Mas antes de começar tinha um pequeno problema: nesse domingo mudava o horário da Europa para o horário de verão e consequentemente eu teria uma horas a menos de sono. Isso se eu soubesse desse horário! Não sabia, mas fui salvo graças à tecnologia. Todos os meu relógios (celular, Garmin e laptop) mudaram para o horário certo e pude estar na van na hora certa, já que a largada seria dada onde paramos no dia anterior. Antes de entrar, encontro com o swipper da dia anterior e ele estava me procurando pois sabia que eu era o único de fora da Europa, talvez do Reino Unido, na corrida. Ele estava preocupado com o fato do horário. Isso sim faz a diferença!





Por incrível que pareça eu estava mais inteiro nesse dia do que na véspera. Comecei num ritmo forte para a terceira maratona, mas antes do segundo quilômetro fui obrigado a caminhar. Não porque estava cansado, mas por se tratar de uma pirambeira daquelas.





Até o primeiro CP, tudo segue normalmente, com o tempo relativamente alto, mas dentro do esperado. Depois dele fui passado pela primeira vez pelos que só corriam, mas nesse dia eu já não era o último do grupo 2. Atrás de mim vinham mais alguns, assim como todos os que optaram por fazer o desafio todo em 24h. Depois desse CP é que a prova começou a mudar, e a ficar cada vez mais difícil.





A primeira dificuldade era alcançar o CP 2, que ficava no ponto mais alto da prova, mas para isso você tinha que sair de praticamente a mesma altura, descer uma escadaria na pedra até o nível do mar, e subir tudo de novo. A névoa começava a dar as suas caras, e enquanto se descia a escada era impossível ver que tinha que subir outra maior ainda, mesmo ela estando a menos de 100m a frente. Quando se avista, é desanimador, mas a corrida segue. Optei por não olhar mais para cima e encarar somente os dois degraus na minha frente, as outras centenas seriam consequência. Deu certo! Lá em cima vejo no meio da névoa o CP2, paro lá e só alcançado pelos primeiros atletas solo. Por incrível que pareça, alcançar esse CP estava longe de ser a maior dificuldade desse dia.


Segui viagem rumo ao CP3. As pessoas que saíram comigo do CP2 estavam no mesmo ritmo que eu. As vezes eles me passavam, as vezes eu passava eles, mas no final das contas estávamos todos juntos, cada um no seu ritmo pessoal de corrida.


Nos próximos 10km, a corrida segue dentro das expectativas. Subidas, descidas, muita dificuldade, mas nada fora dos padrões enfrentados nos dias anteriores. Os últimos quilômetros são dentro de um parque, de onde se tem uma vista lindíssima do mar de um lado, e de um parque bem conservado do outro. Se bem que mar era o que se via ao longo de todo o percurso. Entramos numa pequena cidade e lá estava o CP3 nos esperando. Dei meu sprint para o CP, passei o chip, enchi minha mochila de água, peguei algo para comer e quando estava pronto para sair a notícia que mudou a corrida: devido ao aumento da névoa a guarda costeira tinha impedido a corrida de continuar!!!



Fiquei desesperado! Só faltavam 10km para a reta final e não queria ser obrigado a desistir, mesmo que pela guarda costeira. Já tínhamos corrido 34km (esse dia teria 44km) e desistir ali depois de 120km percorridos ao longo de 3 dias me pareceu frustrante. Mas a organização pediu que aguardássemos para tentarem convencer a guarda costeira. 45min depois a notícia: poderíamos relargar, mas deveríamos permanecer em grupo. Devido à névoa, a corrida tinha deixado de ser individual e se tornado um evento coletivo. Agora deveríamos agir como um grupo até chegarmos na última praia, onde o evento acabaria. Na costa tínhamos que estar agrupados! Ordens da guarda costeira.




Achei a notícia ótima e lá seguimos. Primeiro no resto dessa pequena cidade, depois começamos a subir um morro, até que lá em cima, quando iríamos realmente para a costa, aparece novamente a guarda costeira. Dessa vez não para impedir que a corrida continuasse, mas para nos mandar para um caminho alternativo que teria a mesma distância. Além disso pegaram nossos números para que tivessem certeza que todos tinham chegado. Ninguém poderia ficar para trás.





O caminho alternativo era por dentro de algumas fazendas, fazendas essas no meio de uma colina, colina essa bastante íngreme e molhada, já que chovia. Para dificultar a névoa estava cada vez maior. Não se via mais que 5m a frente. O grupo era grande, mas não consegui ver mais de 5 pessoas. Essas fazendas não faziam parte dos Coast Path, sendo assim, não estavam preparadas para a passagem de pessoas. Muitas delas tinha cercas de arames farpados, que tinham que ser puladas, assim como outros tipos de certas e obstáculos que enfrentamos. Era uma unanimidade entre os que estavam lá: estávamos correndo mais perigo ali do que na costa, mas ali não era responsabilidade da guarda costeira, então para eles era a melhor opção.


Depois de alguns quilômetros (não sei ao certo, pois meu garmin já tinha acabado a bateria) chegamos na praia. Agora eram 2km na areia e 800m ou 1km até a linha de chegada. Na parte da praia alternava corridas com caminhadas para descansar, até que avistei alguém da organização avisando que tínhamos que entrar para a reta final.


Tão logo avistei ele saquei a minha bandeira e saí em disparada como um maluco, no meu já tradicional sprint final além das forças. Mas que disse que essa “reta” final era fácil? Tínhamos que passar por uma partes alagada onde a alternativa era uma só: pé na lama. E a água ia até quase o meio da canela. Mas no calor do momento fui no embalo.


A chegada foi fantástica, dei um grito de desabafo! Foi um bom e velho PQP, que ninguém entendeu, mas eu precisava daquilo. Pequei meu troféu pelo desafio, tirei uma foto com a bandeira, tirei uma foto com o diretor da prova, e fui para a van esperar os outros chegarem para ir até a base da corrida. Consegui completar esse dia com o tempo líquido, descontando a parada por causa da névoa, de 9h17’44”





Quase 70km nos distanciava da base e seria uma viagem demorada. Obviamente fui dormindo e quando saí do carro ainda molhado, comecei a tremer. Não conseguia parar, me deram um café quente, mas a tremedeira, típica de Charles Chaplin, não deixava nada dentro do copo. Me acompanharam até a minha caravan e lá tomei um bom e demorado banho quente. Pronto! Agora sim o desafio tinha terminado.


Mesmo sendo um dos últimos a terminar o desafio, me senti a pessoa mais importante do mundo, pois tinha terminado algo que jurava que seria impossível. Foram 3 Maratonas num tempo de 26h08’46”.


Depois dessa pedreira eu tinha duas semanas de descanso até a próxima corrida: Paris!


Um grande abraço e desculpem pela ausência! Agora voltei com força total!

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