segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

BR217 Parte 4 - De Crisólia até Borda da Mata

Tudo estava pronto para os nosso terceiros trechos. Passei a vez para o João em Crisólia e me preparei para seguir viagem, mas não sem antes tirar uma foto em frente a Igreja da cidade. Me arrumei e seguimos rumo à estrada, onde encontraríamos o João. Andamos alguns quilômetros e percebemos que ele não estava no caminho. Logo resolvemos voltar para começar a nossa caça, mas antes de chegar de volta à cidade, o encontramos já o caminho certo. Ele tinha errado uma seta ainda dentro da cidade e se perdeu por quase 1km, o suficiente para que não o víssemos. De volta ao caminho certo, agora era só seguir adiante

A próxima parada seria Ouro Fino, cidade que ficou famosa graças a uma música do Sérgio Reis (“Menino na Porteira” – “Quando eu viajava na Estrada de Ouro Fino, de longe eu avistava a figura de um menino”). Disse para mim mesmo que iria tirar um foto em frente à estátua que fica na entrada da cidade, mas devido à pressa para que não nos perdêssemos, pelo segundo ano seguido isso não foi possível! Ano que vem eu tiro! Ouro Fino fica a somente 6,4k de Crisólia. Próxima parada agora era Inconfidentes.

Aqui cabe um parêntese: (os atletas era pesados em alguns postos de apoio e não poderia perder mais de 7% de seu peso. Caso a perda fosse de 5%, o atleta seria avaliado e liberado ou não.)

Como o João já tinha sido pesado e tinha perdido mais de 5% de seu peso, combinamos que trocaríamos de lugar para que eu fosse pesado. Como esperávamos ser pesados no PA de Inconfidentes, trocamos de posição antes do local previamente combinado para que não corrêssemos o risco de uma eliminação precoce.

Mas acabou que não fui pesado no PA. Nova pesagem somente em Estiva e nesse ponto seria exatamente na hora que eu estaria correndo, não precisando assim de trocas antecipadas.

Ao passar pelo ponto de apoio e ter meu tempo anotado segui diretamente para o caminho. Tinha que correr pela estrada de asfalto por 1km até uma entrada para uma estradinha de terra. Nessa hora começou a chover e a estrada, onde não poderia passar o carro de apoio, ficou completamente intransitável. Era impossível correr. Corri mal e porcamente até a primeira subida íngreme, onde encontrei um carro desavisado completamente atolado.

Vale lembrar que comecei esse trecho 23h34min. Ou seja, além da dificuldade natural do trajeto, não tinha nenhuma iluminação a não ser aminha lanterna de cabeça e a faixa refletiva, que não refletia nada, pois não tinha nenhuma luz voltada para ela.


Segui no meu misto de caminhada e trote, já que era impossível correr, por alguns quilômetros, até avistar algo que marcaria bastante a minha corrida!!!

No meio do caminho tinha um boi ou touro. Não sou um apaixonado por boi, sempre tive receio de passar perto de um. No Desafio Praias e Trilhas do ano passado dei uma travada frente à uma vaca, mas acabei seguindo em frente, pois já tinha aprendido que ao se assustar o bicho, ele sai do caminho. Pois foi isso que fiz. Comecei a gesticular e a gritar! Mas reparei que o bicho não se mexia e não parava de me encarar! Resolvi pegar a estaca de sinalização e comecei a movimentá-la na esperança de que o boi saísse do lugar, mas nada! Resolvi seguir em frente. O que aconteceu? O boi avançou! Como não parei de mexer a estaca, ele não atacou, mas isso fez com que eu travasse e desistisse de avançar.

Ainda bem que alguns minutos depois (não sei precisar quantos, mas foi entre 5 e 15) surgiu o Wagner. Assim que o avistei fiz a seguinte pergunta: “Tem medo de boi?” Ao ouvir uma resposta negativa o avisei: “Mas esse é bravo, quase avançou em mim!”. Sua resposta: “Basta andar e dar uns gritos que ele sai”. Como disse que já tinha feito, ele falou para segui-lo. Foi o que fiz. Quando estávamos exatamente ao lado do boi o que ele fez? SIM, ele avançou de novo, como estávamos a menos de 3 metros dele, nos apavoramos. Pelo menos posso garantir que EU me apavorei. Ele chegou a menos de 1m da gente. Tivemos que recuar. Uma segunda tentativa de passagem foi realizada e não deu certo. Éramos duas pessoas tentando passar por dois bois (só um nos atacava) e só estávamos perdendo tempo! A solução foi pular uma cerca de arame farpado que separava a estrada onde estávamos do pasto. Ao pularmos não encontramos nenhum boi, e voltamos alguns metros mais a frente, já a salvos do boi, que não parava de nos encarar. Se fosse de dia, certamente teria tirado uma foto do boi que me fez percorrer 1km em 25min, mas como era de noite e não estava carregando a máquina (não quero nem imaginar o que o flash faria com esse boi) o boi segui sem ser registrado. No final da corrida descobri que esse boi atacou mais algumas pessoas. Mais uma surpresa que o caminho nos brindava. Correra BR sem emoção não tem graça.

Depois do boi o trajeto seguia por mais alguns quilômetros. Fui caminhando pelo restante do percurso junto com o Wagner. A chuva só aumentava e era cada vez mais difícil andar! Correr ou trotar era impossível. A melhor coisa que fiz foi ter arranjado uma companhia, pois a pilha da segunda lanterna que eu estava usando, e que tinha acabado de trocar, acabou. Como o Wagner tinha lanterna, filei a dele e seguimos conversando e caminhando. Quando chegou na cidade de Borda da Mata, onde eu encontraria com o João Paulo e ele seguiria a corrida solo, resolvi caminhar junto com ele até a praça central onde sua família o esperava. Depois de usar a lanterna dele como guia não poderia deixá-lo para trás. Seria o cúmulo da falta de consideração.

Foi um prazer acabar aquele trecho, que não teve nada de prazeroso. Acabei os 20,1k em 4h17’. Foi um tempo horrível, mas considerando a chuva, o terreno e principalmente o boi, achei o tempo maravilhoso. Era a vez do João correr. Tão logo ele começou a correr e a tempestade caiu de vez. Só iríamos encontrá-lo novamente em Tocos do Mogi, isso se a estrada deixasse, mas aí já é o próximo trecho.

Volto em breve para contar o penúltimo capítulo dessa longa história. Prometo acabar de contar tudo até o Carnaval. Até porque meu Carnaval é sagrado e 1 semana depois da quarta feira de Cinzas, quando espero que a Vila sagre-se campeã, embarco para a Europa no meu Projeto Europa que será muito comentado aqui.

Um grande abraço.

OBS: com esse terceiro trecho dos dois completamos 134km de prova. Ainda faltavam 83km, uma Maratona para cada!

Um comentário:

  1. Até boi na estrada! Essa ultra está uma verdadeira aventura. E está quase completando. Vamos lá.

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